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Foureaux

Espaço para explanação, discussão e expressão...

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17
Mai19

Palavras...

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Alienado. Uma palavra simples, de sonoridade agradável. Sua prosódia não é problemática. Já houve momentos, na História da Língua Portuguesa, que seu uso foi mais politizado, no sentido mais espesso e rico deste adjetivo. Há outros momentos em que esta consistência se perdeu, em nome de outras expressões, mais condizentes com o circuito cultural da sociedade. Como tudo o mais, os sentidos são voláteis, não aprisionáveis e ricos, muito ricos, na miríade de nuances discursivas passíveis de construção com seu uso. No dicionário, sua “classe” é dupla. Por natureza, é adjetivo, mas pode ser utilizado como substantivo. São quatro, as acepções do termo. Cada uma, na sequência, acrescenta um detalhe, uma nuance, que faz da palavra um termo muito interessante. Seu uso, portanto, deve ser orientado por cuidado e sensibilidade para não se perder a riqueza semântica de dada um desses detalhes. São quatro, as acepções, como eu disse. A primeira diz que alienado é qualidade de algo que foi transferido; cedido, vendido. Nada de muito problemático. Quando alguém gosta de um anel ou de uma écharpe que porventura eu esteja usando, estando eu em um bom dia, tiro o anel do dedo ou a écharpe do pescoço e do para quem está a admirar. Pronto, alienei o anel ou a écharpe! A segunda acepção diz que alienado é aquele que sofre de alienação mental; louco, maluco, doido. Aqui, percebe-se um traço semântico mais espesso: a patologia do termo ou, no mínimo, de seu uso. A ausência de “razão”, ou melhor, de racionalidade nas atitudes, pensamentos e palavras pode sustentar a alcunha e alienado. Uma forma elegante, delicada, de tratar aqueles que já foram motivo de chacota, pena, medo e até raiva. Aquelas pessoas que eram retiradas do convívio social para serem “tratadas”. Foucault já tratou dessas idiossincrasias. Assim, alienação, nesta acepção, é coisa de doido, de hospital, de manicômio. Numa terceira camada semântica, o termo recebe a acepção daquele sujeito que sofre de alienação, que vive sem conhecer ou compreender os fatores sociais, políticos e culturais que o condicionam e os impulsos íntimos que o levam a agir da maneira que age. Aqui, o caráter patológico do sentido do vocábulo ganha espessura mais larga. Não há apenas a redutora referência a um comportamento doentio, mas acrescenta nuances racionais que associam o comportamento alienado. Este comportamento é percebido pelo sujeito que o tem e se transforma em objeto de análise e discussão, de questionamento. Ainda que não necessariamento vinculado à busca de solução dos incômodos causados, o alienado, nesta terceira acepção, é alguém que pensa sobre a própria condição. Ele se questiona sobre como isso teve início, como se manifesta, como se percebe em atos e pensamentos. Para além disso, esse mesmo sujeito busca, mesmo que inconscientemente, uma explicação para entender o que se passa consigo mesmo. Por fim, na quarta acepção, alienado é aquele que, voluntariamente ou não, se mantém distanciado das realidades que o cercam; alheado. Muito longe de ser um sujeito “doente”, o alienado, neste quarto sentido, é um sujeito consciente de seu “estado” e equilibrado o suficiente para perceber que pode fazer uso desta condição como forma de autopreservação. Este alheamento não é, necessariamente, negativo, mórbido, patológico. Antes disso, é um estado de espírito que aponta para certa tranquilidade buscada pelo sujeito que se sente incomodado com o que está à volta. Esta á palavra que tem retumbado em meu pensamento ultimamente. Deve ser fruto da preguiça, da falta de sentido de tudo. A quarta acepção é a que melhor expressa o meu atual estado de espírito. Por uma questão de equilíbrio, de saúde. “Mas esta é só a minha opinião”...

 

 

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